sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Não me importa a porta

Não me importa saber da porta. Se não dizem para que fechar. Se poder é o que importa, faça meu coração parar. Não me importa saber da hora, pois pra mim tempo é marginal. Tempo faz gente ir embora. Tempo faz gente se afastar. Se a vida é triste, se o mundo é mau. Se cantar não é mais coisa natural. Se existem pessoas que vão se matar. Haverá muitas mais para recomeçar.
Não me importa bater a porta. Se o passado presente está. Nem me façam calar a boca, pra calar minha dúvida. Se há pessoas que cantam sempre mais. E outras que parasitam outras tais. Se a verdade é mentira, tanto faz. Desde que minha vida seja paz.

Medo da luz

Devo confessar. Tenho medo da luz. Medo do que ela pode ainda me mostrar. Gente, plis, apaguem a luz. Pode ser que eu veja o que deixei pelo caminho e não goste, sinta vergonha, ou medo. Hei, você! apague este farol. Não quero saber o que vem à frente. Pode ser que doa. Odeio sentir dor.
Devo mesmo confessar. Odeio a luz. É no escuro que o fogo do meu cigarro fica mais vermelho e, às vezes, multicor.
Por favor, não toquem neste interruptor. Tenho pânico de me ver com essa olheiras de quem não pretende dormir nunca mais, para impedir a chegada da manhã. Confesso que não gosto da claridade. Vai que eu te veja como você é e lance por terra as minhas ilusões. Quer saber? Boa noite.

Dudu e Eu

Meu cachorro é um cara e tanto. Não abre mão de estar perto de mim. Se o dia clareia e sente o cheiro do meu cigarro, chora, grita, implora para que eu o tire do seu cantinho e permita que ele inicie sua peregrinação atrás dos meus passos. Sim, Eduardo é um cara e tanto. Nem era meu, mas me adotou. Me ama incondicionalmente. Meu cachorro se sente muito feliz só em subir no sofá e olhar a milímetros dos meus olhos, com seu bafo quente.
O Dudu realmente é um cara especial. Mesmo quase cego pela idade, me segue quase ralando a cara no chão, para não perder meu rastro. Ele sabe que vou cuidar para não esbarrar em nada e escapar das armadilhas pelo caminho.
Edward, seu verdadeiro nome, é um cara e tanto. Me observa até ter certeza de que estou ocupado demais para me mover. Só então, repousa em paz. Meu cachorro é um cara e tanto. Tenho dúvidas se sou dele ou se ele é meu. Meu cachorro é um sujeito muito maneiro. É Feliz e pronto. Quando eu crescer vou querer ser um cachorro igual a ele.

Ecos

Não sei bem o que foi. Se o aniversário de um grande amigo, ou se apenas eu. Mas, deste lado da cidade, ouvindo rock dos anos 70 e com o doce sabor de uma vodka, as imagens de minha infância voltaram como se fossem melhores momentos de futebol. Gols contra e a favor foram reprisados. E eu lá, ora no banco de reservas, ora em campo, com grandes jogadas e de cara para o gol.
É estranho ouvir o passado em um presente tão cheio de vazios. Sim. Estou repleto de vazios. Mas, não chega a doer, não. É só vazio. coisa normal para um menino que só jogava no gol. Na linha era uma tristeza só. O mundo me parece uma grande área e os sonhos são cada vez mais simples de serem realizados. A vida é bem mais simples aos 50, quase 51. E por falar nisso, tragam-me mais um gole, pois estou seco. E há muito vazio.